sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Mais Fácil

Sem dúvida atualmente uma das condutas mais comuns em tempos de internet, comunicação em massa online e dispersão de conteúdo, bom e ruim, “a jato”, é a busca pelo “mais fácil”.
Vejo com muita frequência que a lei do menor esforço polui todas as esferas sociais e com as artes-marciais não seria diferente.
Há muitas pessoas, hoje em dia, que preferem inventar a aprender!
Dentro do contexto das artes-marciais tradicionais japonesas... aqui cabe um parêntese: Estou falando de escolas devidamente reconhecidas e com estrutura mundial estabelecida (exemplo a Bujinkan) e não de uma criação de fundo de quintal que tem como referência apenas “meia dúzia” de pessoas de índole duvidosa, tendo fundamento no "achometro" pessoal de algum "grande mestre" e que tem  uma profunda necessidade de pontos obscuros para não ter que explicar muita coisa para muita gente... podemos chegar as seguintes conclusões:
  • Para aprender algo real é necessário, se submeter à uma organização superior a você mesmo, gastar dinheiro, tempo e em suma ter uma dedicação de vida em todos os seus aspectos e sacrifícios pessoais inerentes, assim como, em uma formação acadêmica tal qual graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado ou pós-doutorado. Haja visto que para uma formação realmente séria é necessário sacrificar seu tempo pessoal e ter uma dedicação diferenciada para se obter uma posição reconhecida por algo maior que você mesmo e com peso cultural, histórico e oficial.
Já para inventar basta apenas ter criatividade, não ter caráter e arrumar um bando de pessoas que não o questione. É importante também colocar-se em posição de superioridade a tudo e a todos e enganar, mentir, descaracterizar a verdade, disseminar falsas verdades e se esconder atrás de subterfúgios legalistas obscuros e brechas morais subjetivas. Não podemos esquecer que eleger um nome bem "legal" tal como "O grande demônio guerreiro" e/ou coisas assim de forma, completamente descontextualizada que somente poderiam ser fruto da ignorância e falta de vivência marcial é muito importante para dar aquele ar de "oriental" e exótico.
INFELIZMENTE, mais pessoas aderem ao “mais fácil”, pois todos querem acesso rápido, fácil e barato a algo que requer tempo, é difícil e custa caro.
Que essa reflexão sirva para todos os leitores para um autoexame.

Meu apelo a TODOS os alunos é: Sempre questionem a originalidade, a fidelidade e autenticidade do que vocês estão consumindo e pagando, através de pesquisas na origem e na fonte de onde veio esse ou aquele "conhecimento", pois há muitos vagabundos mal intencionados vendendo ilusões a quem está disposto a pagar.

BUFU IKAN

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Ser um UKE de Excelência

UKE é uma variação do verbo japonês UKERU (受ける) que pode ter “receber” ou “aquele que recebe” como tradução. Dentro do ambiente de DOJO (道場) de arte marcial é a palavra que define o BUYU (武友), ou colega de treino, que irá te auxiliar no treinamento se dispondo a receber a técnica
que você irá aplicar.
Ser um bom UKE é se sacrificar e oferecer o próprio corpo para que seu colega de treino aprenda uma técnica, conceito ou sentimento. Muitas vezes o UKE corre o risco de se lesionar em prol do treinamento alheio.
Alguns praticantes são naturalmente bons UKEs e outros necessitam de algum amadurecimento técnico, mental ou até mesmo espiritual para se tornar um bom UKE.
A verdade é que encontrar um bom UKE ou um UKE ruim pode influenciar muito na sua experiência de aprendizado.
Outra verdade é que bons UKEs são sempre demandados pelos professores e ou praticantes mais experientes e com isso são aqueles que mais têm oportunidades de aprendizado, pois quando se têm a oportunidade de treinar frequentemente com colegas mais experientes, as oportunidades de aprendizado são sempre muito interessantes.
Existe um vetor dentro a atuação de um UKE que vai do extremo de rigidez, resistência e força até o outro extremo de passividade, falta de resistência e entrega. Os dois extremos são prejudiciais ao bom andamento do treinamento e as vezes até tornam o treinamento frustrante. Depois de algumas de décadas de treinamento, penso que o bom UKE é aquele que entende a movimentação do colega de treino e atua em perfeito equilíbrio com as necessidades da técnica a ser praticada.
Compreender o que é necessário fazer, quando endurecer e quando aceitar é fundamental para um bom UKE.
Ouvir, confiar, aceitar e respeitar as instruções de como agir vindas do parceiro de treino que irá aplicar a técnica é essencial para se atuar como um bom UKE. Aprender a realizar a leitura de uma movimentação corporal para compreender qual é o seu papel dentro de uma técnica também é uma habilidade desejável para se tornar um bom UKE.
Um bom UKE é aquele que durante o processo de aprendizado, molda suas atitudes para estar em harmonia com o colega de treino, com a técnica e com o ambiente que o cerca.
Ter um bom preparo físico, flexibilidade e maleabilidade são pontos fundamentais para quem pretende desenvolver as habilidades de um UKE de excelência.
Para ser um bom UKE você terá que estudar muito os princípios fundamentais da arte marcial tais como:
  • KAMAE: Posturas;
  • TAIHEN JUTSU: Movimentação do corpo, quedas, rolamentos, esquivas e estudo das direções;
  • UKE NAGASHi: Absorção, bloqueios, contra-ataques, deflexões e evasões;
  • HOKEN JUROPO: As diversas formas de ataques utilizando os punhos; e
  • KERI WAZA: as diversas formas de utilização das pernas e pés para atacar, defender e caminhar.

Se alguém ainda não entendeu que a busca pessoal para se tornar um bom UKE é indispensável para o verdadeiro aprendizado da arte marcial, essa pessoa ainda não compreendeu a verdadeira essência do BUDO (武道).

Um forte abraço a todos e que os bons ventos marciais soprem sobre vocês.