quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Decidindo mover ou não mover montanhas

Deus, através das situações (provações e bênçãos) da vida, tem me ensinado muitas coisas e entre elas creio que uma das mais marcantes é a necessidade da perseverança, persistência e constância nas ações para alcançar determinados objetivos.
Como é de conhecimento comum, uma das minhas principais atividades atuais é a prática da arte marcial e nos últimos meses tenho me dedicado a ela com uma intensidade bem maior, tanto como professor quanto como praticante.
Nesse meio de arte marcial venho ministrando aulas a aproximadamente 13 anos e praticando a aproximadamente 20 anos e uma coisa que sempre me intrigou foi o “turn over” que envolve esse tipo de atividade.

Para as pessoas que não estão familiarizadas com o termo:
“Turn over” é um termo da língua inglesa que significa "virada"; "renovação"; "reversão" sendo utilizado em diferentes contextos. É um conceito frequentemente utilizado na área de Recursos Humanos (RH) para designar a rotatividade de pessoal em uma organização, ou seja, as entradas e saídas de funcionários em determinado período de tempo.



Durante esse tempo supra citado tive a oportunidade de observar centenas de colegas iniciarem o caminho marcial. Alguns tiveram fôlego para apenas alguns meses, outros permaneceram por alguns anos e depois desistiram, uns, muito poucos alcançaram as dezenas como contadores anuais e depois se foram e uma fração mínima, realmente uma exceção à regra, se mantiveram no caminho sem desistir.

Na arte marcial, assim como em toda a vida, o caminho é difícil, principalmente se o indivíduo pretende fazer tudo da forma correta, ser honesto e disciplinado. Todo o caminho pautado por esses valores é um caminho mais difícil, cheio de obstáculos. Alguns desses obstáculos são fáceis de se transpor e outros são “montanhas no caminho”.

E acredite, “montanhas no caminho” existem para todos. 

Sem exceção!


Não sei se o leitor está habituado a enfrentar montanhas. Eu tive a oportunidade de enfrentar montanhas, algumas vezes. Literalmente. Minha montanha preferida é o Pico da Bandeira.
O Pico da Bandeira é o ponto mais alto dos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais, como também de toda a Região Sudeste do Brasil. É também o terceiro ponto mais alto do país, com 2.891,98 metros de altitude.
Já o encarei por mais de um caminho diferente e por mais de doze vezes já venci esse “velho amigo”.



Através da prática do montanhismo aprendi que é possível ir além daquilo que nós mesmo acreditamos ser alcançável para o nosso corpo. “Mover uma montanha” ou superar uma montanha, nesse caso podem ser considerados sinônimos, é uma atividade que envolve um esforço, que as vezes, vai além das nossas capacidades. Encarar uma grande montanha, requer uma mente focada na tarefa, uma vontade forte de concluir o objetivo e principalmente sentir a necessidade emocional de vencer o obstáculo.
Conversando sobre montanhismo com várias pessoas, sempre ouvi a seguintes afirmações:
“...enquanto você sobe a montanha eu fico no hotel com aquecimento e conforto...”, “...pra que passar por todo esse sofrimento se eu posso ver as fotos ou vídeos?...” e etc.
A questão é: As “montanhas” existem em nosso caminho. Algumas delas nós podemos decidir superar ou não e outras, nós não temos escolha.


Voltando à prática de arte marcial: Sempre vejo as pessoas desistindo do caminho, porém uma grande parte delas mantém o discurso: “...eu amo essa arte (ou atividade), porém agora está difícil de continuar...”. Seja pelo trabalho, compromissos familiares ou coisas do dia a dia, muitas pessoas simplesmente desistem de continuar um determinado caminho que lhe faz bem por não ter mais força de vontade para lutar contra as dificuldades, ou seja, desistiu de tentar “mover as montanhas” do caminho.

Outra verdade, no que diz respeito a arte marcial é “...esse caminho não é para qualquer um...”. Essa máxima pressupõe que pessoas com uma força de vontade comum e que não tem por costume alimentar aquela chama interna que nos leva a superar os desafios propostos, não abandona o seu conforto para ir até um Dojo (local de prática de arte marcial) para ter desafios exaustivos de aprendizado e superação.

Analisando o alto índice de desistência e abandono dos Dojos atualmente, cheguei à conclusão de que realmente a cultura mundial de satisfação a qualquer custo e com o menor esforço possível é umas das variáveis que trabalham contra a cultura marcial. E principalmente a superficialidade com que as pessoas estão acostumadas a lidar com seus desafios buscando sempre “caminhos alternativos” para desistir de transpor obstáculos.

Observando tudo isso, um verso da uma canção popular brasileira me veio à cabeça:

“...Não se move uma montanha por um pálido pedido de alguém que não se ama...”
Palavras e silêncio (Zeca Baleiro)

Meditando mais sobre o assunto, me lembrei também das palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo:

“...porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela...”
Mateus 7:14

Creio que o que há para se pensar a respeito do assunto é: Todas as vezes em que um obstáculo intransponível estiver em nosso caminho devemos analisar o quão realmente é intransponível esse obstáculo.

Se absolutamente nada de bom, nessa vida, virá de graça, será que não vale a pena se esforçar de verdade por algo que amamos? E se não, será que realmente amamos?

Que este ponto de meditação fique para os leitores desse texto e espero que os ajude nos momentos de dificuldades e nas “montanhas as serem movidas” de seus caminhos.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

E meu joelho Dói!



Acordo bem cedo e faço meu café da manhã. Sempre solitário, porém é gratificante ter o conforto de um belo rompimento de jejum noturno. E meu joelho dói.


Dirigir durante quase uma hora em um trânsito repleto de pessoas mal preparadas, não somente para conduzir seus veículos, mas também para viver em sociedade. E meu joelho dói.


Um dia de trabalho duro, com seus altos e baixos. Adoro meu trabalho, mas a rotina imposta pelos bem mais de 20 anos de profissão não trazem muitos desafios estimulantes, mas a dignidade de conquistar diariamente o próprio “pão” é gratificante, porém meu joelho dói.


Dirigir novamente durante quase uma hora em um trânsito repleto de pessoas que além de suas características supracitadas também agora, assim como eu, estão cansadas. E meu joelho dói.



Um breve descanso e é hora de limpar o Dojo, arrumar tudo, preparar as técnicas a serem ensinadas. Mais um acerto na decoração, o tatame limpo e um banheiro desinfetado e meu joelho dói.


Aguardo ansiosamente por aqueles os quais supostamente estão engajados no processo de aprendizado de um conjunto de coisas (cultura, sabedoria, técnica e conhecimento) que adquiri com um custo infinitamente superior ao que é cobrado por mim. Custo não tão somente financeiro, mas também de dedicação de vida. E meu joelho dói.


Apenas uma fração do grupo aparece e se iniciam as atividades de ensinar, praticar, aprender e suar. E meu joelho dói.



A cada instante lembro-me daqueles que, como eu, trilharam esse caminho. O caminho do guerreiro. O caminho mais inglório, mais irregular, mais duro e mais árduo. Alguns desistiram da jornada, outros ainda trilham esse caminho, mas há muito tempo estão distantes. Lembro-me da máxima: “O caminho do guerreiro é um caminho que se trilha só.”. Cada recordação vem junto com a carga de coisas (cultura, sabedoria, técnica e conhecimento) a ensinar. E meu joelho dói.

A aula acaba e os poucos que vieram se vão. Hora de fechar tudo, encerrar as atividades diárias e tentar relaxar para descansar e amanhã fazer tudo igual novamente. E meu joelho dói e como dói.


terça-feira, 15 de julho de 2014

O que eu ganho com isso?

Esse texto foi escrito por mim em 2005 e levemente adaptado para os dias de hoje, aja visto que o tema continua pertinente:

Todos dias, nós, praticantes de Budo Taijutsu, somos questionados sobre vários aspectos referentes a essa atividade que insistimos em manter em tão alta estima e comprometimento. Algumas dessas questões são de fácil arguição, já outras têm no âmago de sua resposta o objeto da procura pela chama que nos motiva a levar adiante a árdua tarefa de conviver em meio às adversidades da vida cotidiana.
Por que eu faço Budo Taijutsu? Essa é uma das fáceis. Porque eu gosto! No meu caso essa seria a resposta ideal, pois é simples, expressa bem e tem um toque de sentimentalismo, assim consequentemente evitamos passar horas, parafraseando algum Sensei, em uma explicação dispersa e mirabolante sobre a nossa atração pela mágica mística que envolve a prática do Budo Taijutsu.
O que eu ganho com isso? Essa sim é uma das difíceis. E foi ela que eu escolhi para decorrer em meu breve ensaio.
Bom, comecemos por analisar a questão em si. Quando pensamos em perdas e ganhos, instantaneamente somos forçados a traçar um raciocino de custo/benefício. Porque afinal de contas, com exceção dos nossos excelentíssimos políticos, para ganhar qualquer coisa na vida nós, reles mortais, devemos dar algo em troca e para ter algum ganho nessa barganha, o que obtemos de retorno tem que ser maior do que nosso investimento seja em valor, quantidade ou qualidade.
Ao medir justamente os benefícios adquiridos com a dedicação que nos é cobrada pelos professores, nós, mediante a vocês, nossos alunos, ou nosso querido sensei mediante a nós, veremos que essa realmente é uma pergunta cuja resposta é de compleição robusta e que deve ser tratada com respeito e cautela.
Essa questão pode ter várias respostas e cada uma delas esta intimamente ligada a nossa dedicação à prática da arte. Pensando nisso comecei a “matutar cá com meus botões” e formar minha resposta simples e direta, porém com algo a dizer nas entrelinhas, para não cair de novo na extenuante síndrome dispersiva e também fugir da simplicidade tosca, curta e grossa.
Ganhos na compleição e força física poderia ser uma boa resposta, mas sou forçado a lembrar da musculação e seus mais bem sucedidos resultados mediante a uma prática disciplinada. E de fato temos que admitir que a dedicação necessária seria muito menor do que a que nos é cobrada. Ganhos na agilidade e flexibilidade poderia ser também a solução de nosso embate, mas também sou jogado contra práticas como Kung-Fu ou GRD (Ginástica Rítmica Desportiva) que têm uma dedicação semelhante a nossa e têm resultados muito superiores nesses aspectos. Ganhos no aprendizado da arte do combate e da luta? Creio que a prática do Boxe, Jiujitsu, Taekwondo, Karate, Judô e outras milhares de práticas são tão ou mais efetivas que a nossa no que diz respeito ao combate puro em simples. Ganhos intelectuais e culturais poderia ser a resposta, se não existissem as bibliotecas e a internet com informações a nossa disposição 24 horas por dia a um clique de mouse de distância. Ganhos espirituais, essa já é uma resposta à beira do desespero conceitual, “ora bolas” o crescimento espiritual é uma prática diária pessoal e várias religiões podem lhe ajudar muito mais do que um grupo de ninjas. No fundo o equilíbrio entre todas essas respostas acima poderia formar uma boa síntese, mas como unir tudo isso com simplicidade e principalmente humildade?
Voltando na minha memória lembro de um amigo cascateando toscamente algo sobre nossa arte com o nome de Cultura de Movimentação Corporal. E de repente aparece uma luz no fim do túnel. Mas vamos com calma, ainda não sei se é a saída que tanto procuramos ou é o trem vindo em nossa direção.
Começo a me lembrar que depois de muito e muitos anos de prática eu não me tornei tão mais forte do que era quando entrei no Budo Taijutsu, mas eu aprendi a utilizar a força no momento e local certo (consciência corporal), isso também traz outra lembrança: eu sou não tão mais ágil e flexível do que eu era quando comecei a treinar, mas aprendi a me posicionar no local e de formas certas quando necessário (movimentação corporal), outra lembrança me vem à cabeça é que realmente antes de começar a treinar Budo Taijutsu nunca pensei que passaria horas e horas discutindo com uns amigos sobre a verdadeira essência de um ditado oriental que é utilizado como nome de uma de nossas centenas de técnicas (cultura) e por fim mesmo sendo um cristão reformado protestante e ter sempre estado tentando manter em prática o exercício da minha vida espiritual tive muitas oportunidades dentro do ambiente de dojo de compartilhar, compreender, ceder, ensinar, aprender, mudar, resistir, firmar, absorver, amar e proteger o próximo. Exercitando assim também o espiritual.
É, acho que meus grandes amigos, a quem considero companhias perfeitas para o campo de batalha da vida e que mesmo sendo uns dispersos e redundantes e outros “ogros, toscos e gonorantes”, detinham em suas essências, esse tempo todo, a chave da questão.
O que eu ganhei com isso?
Ganhei grandes amigos e aprendi conhecer e movimentar meu corpo!