terça-feira, 15 de julho de 2014

O que eu ganho com isso?

Esse texto foi escrito por mim em 2005 e levemente adaptado para os dias de hoje, aja visto que o tema continua pertinente:

Todos dias, nós, praticantes de Budo Taijutsu, somos questionados sobre vários aspectos referentes a essa atividade que insistimos em manter em tão alta estima e comprometimento. Algumas dessas questões são de fácil arguição, já outras têm no âmago de sua resposta o objeto da procura pela chama que nos motiva a levar adiante a árdua tarefa de conviver em meio às adversidades da vida cotidiana.
Por que eu faço Budo Taijutsu? Essa é uma das fáceis. Porque eu gosto! No meu caso essa seria a resposta ideal, pois é simples, expressa bem e tem um toque de sentimentalismo, assim consequentemente evitamos passar horas, parafraseando algum Sensei, em uma explicação dispersa e mirabolante sobre a nossa atração pela mágica mística que envolve a prática do Budo Taijutsu.
O que eu ganho com isso? Essa sim é uma das difíceis. E foi ela que eu escolhi para decorrer em meu breve ensaio.
Bom, comecemos por analisar a questão em si. Quando pensamos em perdas e ganhos, instantaneamente somos forçados a traçar um raciocino de custo/benefício. Porque afinal de contas, com exceção dos nossos excelentíssimos políticos, para ganhar qualquer coisa na vida nós, reles mortais, devemos dar algo em troca e para ter algum ganho nessa barganha, o que obtemos de retorno tem que ser maior do que nosso investimento seja em valor, quantidade ou qualidade.
Ao medir justamente os benefícios adquiridos com a dedicação que nos é cobrada pelos professores, nós, mediante a vocês, nossos alunos, ou nosso querido sensei mediante a nós, veremos que essa realmente é uma pergunta cuja resposta é de compleição robusta e que deve ser tratada com respeito e cautela.
Essa questão pode ter várias respostas e cada uma delas esta intimamente ligada a nossa dedicação à prática da arte. Pensando nisso comecei a “matutar cá com meus botões” e formar minha resposta simples e direta, porém com algo a dizer nas entrelinhas, para não cair de novo na extenuante síndrome dispersiva e também fugir da simplicidade tosca, curta e grossa.
Ganhos na compleição e força física poderia ser uma boa resposta, mas sou forçado a lembrar da musculação e seus mais bem sucedidos resultados mediante a uma prática disciplinada. E de fato temos que admitir que a dedicação necessária seria muito menor do que a que nos é cobrada. Ganhos na agilidade e flexibilidade poderia ser também a solução de nosso embate, mas também sou jogado contra práticas como Kung-Fu ou GRD (Ginástica Rítmica Desportiva) que têm uma dedicação semelhante a nossa e têm resultados muito superiores nesses aspectos. Ganhos no aprendizado da arte do combate e da luta? Creio que a prática do Boxe, Jiujitsu, Taekwondo, Karate, Judô e outras milhares de práticas são tão ou mais efetivas que a nossa no que diz respeito ao combate puro em simples. Ganhos intelectuais e culturais poderia ser a resposta, se não existissem as bibliotecas e a internet com informações a nossa disposição 24 horas por dia a um clique de mouse de distância. Ganhos espirituais, essa já é uma resposta à beira do desespero conceitual, “ora bolas” o crescimento espiritual é uma prática diária pessoal e várias religiões podem lhe ajudar muito mais do que um grupo de ninjas. No fundo o equilíbrio entre todas essas respostas acima poderia formar uma boa síntese, mas como unir tudo isso com simplicidade e principalmente humildade?
Voltando na minha memória lembro de um amigo cascateando toscamente algo sobre nossa arte com o nome de Cultura de Movimentação Corporal. E de repente aparece uma luz no fim do túnel. Mas vamos com calma, ainda não sei se é a saída que tanto procuramos ou é o trem vindo em nossa direção.
Começo a me lembrar que depois de muito e muitos anos de prática eu não me tornei tão mais forte do que era quando entrei no Budo Taijutsu, mas eu aprendi a utilizar a força no momento e local certo (consciência corporal), isso também traz outra lembrança: eu sou não tão mais ágil e flexível do que eu era quando comecei a treinar, mas aprendi a me posicionar no local e de formas certas quando necessário (movimentação corporal), outra lembrança me vem à cabeça é que realmente antes de começar a treinar Budo Taijutsu nunca pensei que passaria horas e horas discutindo com uns amigos sobre a verdadeira essência de um ditado oriental que é utilizado como nome de uma de nossas centenas de técnicas (cultura) e por fim mesmo sendo um cristão reformado protestante e ter sempre estado tentando manter em prática o exercício da minha vida espiritual tive muitas oportunidades dentro do ambiente de dojo de compartilhar, compreender, ceder, ensinar, aprender, mudar, resistir, firmar, absorver, amar e proteger o próximo. Exercitando assim também o espiritual.
É, acho que meus grandes amigos, a quem considero companhias perfeitas para o campo de batalha da vida e que mesmo sendo uns dispersos e redundantes e outros “ogros, toscos e gonorantes”, detinham em suas essências, esse tempo todo, a chave da questão.
O que eu ganhei com isso?
Ganhei grandes amigos e aprendi conhecer e movimentar meu corpo!


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